O caso Juliana Szabluk: o que uma mulher precisa fazer pra ser protegida de um agressor?

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Segue o depoimento desesperado de Juliana, que vem sofrendo perseguição de um homem há meses:

“Amigos, amanhã é o dia da audiência com o stalker, com o novo juiz, com os médicos que “trataram” o stalker, com seu defensor e com minha advogada. Informo que a chance dele ser solto é muito, muito grande, já que ele é réu primário. Informo também que, se isso ocorrer, a justiça ouvirá o mais enfático e real discurso de encerramento de uma vítima de violência feminina na história do Rio Grande do Sul. Se a justiça soltá-lo, estará decretando o fim do meu direito de ir e vir e voltarei a estar presa em minha casa por tempo indeterminado, como fiquei nos últimos três meses de minha vida. PRESA, FUGITIVA, EM PÂNICO, SEM CASA, SEM SABER SE ESTAREI VIVA AMANHÃ, SEM PODER SAIR NA RUA, IR AO SUPERMERCADO, À FACULDADE. PRESA, IMPEDIDA DE VIVER. NÃO. CHEGA. Não posso mais ficar em cárcere privado, não é mais possível pegar táxi pra tudo, não é mais possível gastar os milhares de reais que não tenho para fugir 24h e pagar um novo tratamento de saúde, porque meu sistema imunológico está se desfazendo. Não é possível, senhor terapeuta do agressor, que se responsabilizou pelo tratamento ambulatorial do maníaco às 20h de terça e me ligou 10h depois avisando que a criatura fugiu violenta e em surto e eu precisaria parar meu trabalho, minha vida e sair correndo da cidade NOVAMENTE por sua irresponsabilidade, SENHOR TERAPEUTA. NÃO É POSSÍVEL, SENHOR TERAPEUTA E PROJETO RESPONSÁVEL PELA PROTEÇÃO DE QUALQUER COISA EXCETO DAS VÍTIMAS. Não é possível um cidadão dentro da lei ter sua vida banida por complacência com agressores. Não é possível DESTRUIR A VIDA DE UMA MULHER porque tu, sistema, não é capaz de compreender a gravidade de uma situação, sendo que, diariamente, uma mulher aparece morta num caso idêntico nas capas de jornais. EU NÃO SEREI A MULHER ASSASSINADA NA CAPA DO DIÁRIO GAÚCHO e estou avisando há meses que existe um homem perigoso e louco me perseguindo e TENTANDO INVADIR MINHA CASA PARA ME MATAR, SISTEMA. O QUE TU VAI FAZER PRA PROTEGER MINHA LIBERDADE, DEMOCRACIA? Pois bem, justiça brasileira. Caso tu solte o stalker, tu vai me ouvir. Vai me ouvir por meio da internet, de jornais impressos, rádio e televisão. Tu vai me ouvir e teus nomes serão mencionados e as fotos do agressor aparecerão e seu passado virá à tona e O JOGO VAI VIRAR. Pessoal, caso ele seja solto de fato, PRECISAREI DA AJUDA EFETIVA DE MUITOS DE VOCÊS PARA GARANTIR MINHA EXISTÊNCIA. – Alunos da UFRGS – Campus do Vale, que correm risco de vida como eu (mulheres apenas, já que ele é “normal” quando existem homens por perto) – Amigos jornalistas do PORTO ALEGRE, SÃO PAULO E BELO HORIZONTE, que é a terra natal da criatura e que saberá da indiferença da família deste ser, que larga um filho que persegue mulheres em Porto Alegre e diz que APENAS DEUS PODE SALVÁ-LO. Por último, já aviso a todos: estou mudando de endereço definitivamente. NINGUÉM saberá onde eu moro. Nem minha família ou amigos. Estou mudando de telefone também. Encerrarei meu perfil no facebook – postarei apenas coisas ligadas ao caso até que este episódio de minha vida acabe e eu possa voltar a ter paz por um segundo sequer. As cartas estão na mesa. O sistema decidirá e eu reagirei. Meu nome é Juliana Szabluk – eu não ataco, mas minha defesa é cruel. Isso é questão de vida ou morte e eu cansei de implorar ajuda pra me manter viva. Cansei de contato imbecil tirando sarro e fazendo piada desta situação, cansei de terapeutas de stalker adolescentes fingindo ter capacidade profissional pra cuidar disso e colocando minha vida em risco. Cansei de chorar de dor 24h, por doenças que meus médicos me dizem que só curarão quando este agressor sair da minha vida. Cansei de não poder estudar. Cansei de perder trabalhos. Cansei de pegar empréstimo em banco pra pagar minha existência. Cansei. EU CANSEI, PESSOAL. CANSEI.”

 

Atualização 16/02:

“Amigos, desfecho de hoje (e por um bom tempo) do caso stalker: minha advogada e eu entramos na audiência e conversamos brevemente com a juíza substituta, que agiu como boa substituta – rápida, objetiva, “assina logo pra eu ir para a próxima audiência”. O que ocorre é que quem decidirá a sentença final do agressor é o juiz oficial do caso, que está de férias e que sempre demonstrou ser um dos únicos a compreender a gravidade da situação. Cremos, minha advogada e eu, que este juiz retorna após o carnaval. O que aconteceu na audiência: relatei brevemente o caso (pela centésima vez) e fui dispensada. Aguardamos do lado de fora e voltamos para ler, nos altos, o que tinham dito o agressor e o psiquiatra responsável pelo agressor (coordenador do projeto de proteção que “tratou” do stalker neste período entre uma audiência e outra). Não posso digitar tudo que foi dito, mas as notícias são motivadoras e coloco entre aspas os termos usados nos altos do processo: o psiquiatra determinou que o agressor sofre sim de “insanidade mental” e que sim “representa risco letal para si mesmo e para terceiros” (tudo que eu venho dizendo desde dezembro e que o próprio projeto de proteção havia negado e que teve que voltar atrás após ter sido ameaçado diretamente pelo mesmo agressor). O psiquiatra recomenda que o stalker seja removido de Porto Alegre e tratado onde sua família reside (creio que Espírito Santo). Caso sua família negue o apoio ao stalker, o que é bem provável pelo que sei da família dele, ele terá alguém indicado pelo estado para ser responsável pelo tratamento dele. Estas são RECOMENDAÇÕES do psiquiatra. O que me motiva mais ainda é a ênfase deste juiz oficial do caso ao mencionar seu respeito pelo trabalho deste psiquiatra e sua crença na capacidade deste doutor. Portanto, dormirei hoje acreditando muito que, quando o juiz retornar de férias, lerá as recomendações do psiquiatra e enviará o stalker de volta para seu estado sem chance de retorno. Boa observação: o stalker disse que a opinião do psiquiatra eram “calúnias” contra ele e que ele havia fugido até minha casa “para pedir que eu removesse a queixa” e que ele “não sabia que isso representava quebra da medida protetiva”. Hm, eu estava na audiência quando o juiz explicou a medida e digo que o stalker chegou num ponto em que ou ele é um criminoso perigoso ou alguém totalmente destituído da capacidade de pensar, em surto e desligamento total da realidade – ou ambos. O que me importa é que tudo que eu venho dizendo aqui e que MUITOS DESACREDITARAM E DESDENHARAM tem se provado verdade desde o início seja pelas mãos da justiça ou pela opinião de um dos psiquiatras mais respeitados do sul do país. Bom, ex-contato que vive de diminuir ironizar a vida alheia (e, portanto, a sua própria vida): abra o jornal, leia o caso da Eloá e veja se tu consegue rir disso também, miserável. De resto, amigos amados, não tenho palavras para as dezenas e dezenas de compartilhamentos do caso hoje. Lembro do nome de cada um de vocês e minha gratidão será eterna – tanto subjetiva quanto objetiva. Este período da minha história tem sido definidor pra perceber quem está de fato do meu lado ou de fato em busca de algum jornalismo com cunho social ou de uma comunidade pelo bem de todos – além interesse específico e pessoal. Nunca acreditei em algo totalmente negativo. Nunca. Sempre fui obrigada, ao longo da minha vida, a perceber o lado bom das desgraças mais absurdas, para que eu pudesse ter força para prosseguir. Pois bem, desta vez esta força tem nomes e rostos e vem de vocês, de todos vocês. Estamos quase conseguindo, amigos. Podem saber que darei prosseguimento à luta contra violência virtual, conscientização das patologias que estão surgindo na sociedade em rede e o que podemos fazer pra evitar que centenas e centenas de homens, mulheres, jovens e adultos sofram disso no futuro. Enfim, já dedicava minha vida ao lado psicológico e social da sociedade em rede, ampliarei meu escopo de atuação com todo meu prazer. Um imenso beijo a todos que me ajudaram hoje – repassarei esta ajuda para muitas outras mulheres deste país, é meu agradecimento.”

 

8 Comentários

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8 Respostas para “O caso Juliana Szabluk: o que uma mulher precisa fazer pra ser protegida de um agressor?

  1. Divulgarei sua historia Juliana, para que mais mulheres possam saber como agir e outras se revoltem com nosso sistema!

  2. Pingback: Feminicídio: até quando vamos culpar nossas mulheres pelos seus assassinatos? « Mulherescarnivoras's Blog

  3. Mariana

    até quando, meu deus, até quando? esperoo que tu retome a tua paz, a tua vida

    • AYLIN

      O nosso Sistema NÃO FUNCIONA…ignorar isso é ser mais masoquista ainda,se é que isso é possível,é querer morrer mesmo !
      Faz outro empréstimo em banco e usa bem esse dinheiro…

  4. AYLIN

    Mariana, invocar deus nesses casos não adianta ! temos que tomar alguma atitude que não seja só rezar…
    Ela já procurou a justiça …não deu certo…se ela não procurar outras formas de defesa e for morta…mereceu ! parece grosseiria,mas não é… ela tem que se mexer se a justiça não se mexe…

  5. O que dizer de uma pessoa que acha que a vítima “mereceu”?

  6. syl

    Nossa, fiquei intrigada com esse caso, mas procurei na internet e n consegui tirar algumas duvidas … como esse cara conheceu ela? E como começou essa perseguição, foi algo gradativo? E qd ela se entendeu q corria perigo e pediu ajuda?

  7. Matheus

    Eu já havia matado ele e alegado legitima defesa, beijos!

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